
Comentários invasivos no pós-parto afetam o emocional da mãe, mesmo quando disfarçados de “preocupação”
Como lidar com comentários invasivos no pós-parto
“Nossa, ainda tá com esse barrigão?”
“Você tá mimando demais esse bebê.”
“Tá na hora de voltar à sua rotina, né?”
Se você também já ouviu essas frases — ou variações delas — no seu puerpério, saiba que não está sozinha. Eu sou Akina, mãe solteira de duas meninas gêmeas, e aprendi na prática que comentários invasivos no pós-parto não são raros. Eles chegam disfarçados de “preocupação” ou “ajuda”, mas ferem de maneira sutil e profunda.
Por que esses comentários doem tanto?
No pós-parto, estamos emocionalmente expostas. O corpo dói, o sono é fracionado, a identidade se fragmenta. Nesse cenário, qualquer frase dita sem sensibilidade pode parecer uma crítica ao nosso desempenho como mãe — e como mulher.
Quando escutei pela primeira vez “você precisa se arrumar um pouco, senão vai se abandonar”, eu chorei. Eu não conseguia tomar banho sem pressa, quem dirá pensar em maquiagem. O que era um comentário aleatório para alguém, pra mim soou como uma cobrança cruel. Era como se minha entrega total à maternidade ainda não fosse suficiente.
Colocando limites sem culpa
Uma das maiores lições que aprendi como mãe de gêmeas foi a necessidade de me proteger emocionalmente. Sim, há quem fale sem maldade. Mas há também quem fale para controlar ou diminuir.
Algumas estratégias que funcionaram comigo:
- Respostas neutras e firmes: “Prefiro não comentar sobre isso agora”, “Estou fazendo o que funciona melhor pra nós”.
- Mudar de assunto: não é sua obrigação explicar suas escolhas.
- Reduzir o contato com pessoas que desgastam: sim, mesmo que sejam da família.
- Ter alguém de confiança para desabafar, mesmo que seja virtualmente.
Com o tempo, a gente percebe que se posicionar é, na verdade, um ato de autocuidado.
Mas e quando a crítica vem de dentro?
Essa é mais difícil. Porque, às vezes, a voz mais dura vem da gente mesma. A pressão por “dar conta”, por “ser suficiente”, por “não errar”… ela se fortalece com os comentários externos, mas nasce dentro da nossa cabeça.
Por isso, além de silenciar os outros, aprendi a silenciar minha autocrítica. E toda vez que me pegava me julgando, eu me perguntava: “Você falaria isso para outra mãe?”. A resposta era sempre não. Então por que falar comigo?
Você não precisa se justificar
Não precisa justificar por que ainda está com o mesmo corpo. Nem por que o bebê dorme no seu colo. Tampouco por que você não está trabalhando, ou está. Cada maternidade é única. E ninguém tem o direito de interferir em decisões que dizem respeito à sua vida, seu corpo e seu filho.
Se quiser aprofundar esse olhar, recomendo o post O luto da mulher de antes. Ele fala sobre como nos transformamos após o parto — e como precisamos acolher essa nova versão, sem comparações.
Além disso, vale a leitura da Cartilha do Ministério da Saúde sobre saúde mental da mulher, que orienta sobre os direitos da puérpera e a importância do cuidado emocional nesse período.
O seu espaço é sagrado
No fim das contas, o pós-parto não é lugar para invasões. É espaço de recolhimento, de conexão e de reconstrução. E qualquer palavra que chegue deve vir com afeto — ou não vir.
Você está fazendo o melhor que pode. 💪 E, por mais que algumas pessoas não saibam respeitar esse momento, você tem todo o direito de se proteger. Palpite, só com afeto. 💬 Crítica, só se for construtiva e convidada. O resto, a gente aprende a deixar pra lá.
Com carinho e verdade,
Akina — mãe de gêmeas, mulher inteira e criadora do Meu Pandinha 🐼